Pela primeira vez, um censo agropecuário indicou menos de um milhão de
pessoas ocupadas em estabelecimentos agropecuários no Rio Grande do Sul. Em 11
anos, o meio rural gaúcho perdeu mais de 248 mil trabalhadores, cerca de 20% do
total - possivelmente atraídos por oportunidades na cidade.
Os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) retratam uma realidade cada vez mais visível no campo: a
intensificação da atividade, com o uso crescente de máquinas e equipamentos, e
a migração urbana.
- O investimento em tecnologia requer menos mão de obra.
Outro fator que explica a redução da ocupação é o fenômeno migratório,
com cada vez menos pessoas dispostas a ficar na zona rural - afirma Cláudio
Sant"Anna, coordenador técnico do Censo Agropecuário 2017 no Estado.
Os dados da pesquisa mostram que a diminuição dos postos de trabalho foi
impactada pelo avanço da mecanização e de tecnologias.
O número de tratores aumentou quase 50% no Estado, chegando a 242 mil
unidades em 2017. No país, a variação foi semelhante, chegando a marca de 1,2
milhão de unidades.
Entre 2006 e 2017, para cada trator adquirido no Estado, três empregos
foram eliminados.
- A concentração do número de propriedades, diante da dificuldade dos
pequenos competirem, também favoreceu a mecanização e, consequentemente, a
menor necessidade de pessoas no campo - acrescenta Nicole Rennó, pesquisadora
do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São
Paulo (Cepea/USP), que faz acompanhamento trimestral da ocupação no agronegócio.
A pesquisadora pondera que a queda do número de trabalhadores é maior
dentro da porteira do que fora dela - onde se configura o agronegócio.
Nas agroindústrias e nos agrosserviços, a tendência de redução de trabalhadores
é bem inferior.
- A indústria e os serviços não tiveram uma mudança estrutural na
atividade que dispensasse a necessidade de mão de obra, ou seja, a modernização
foi menor - destaca a pesquisadora.
O avanço da mecanização pode ser relacionado, ainda, com o aumento da
produtividade da agropecuária brasileira, que cresce a taxas superiores ao
restante da economia.
O USO DA IRRIGAÇÃO também ajudou a aumentar a mecanização no
campo. Cerca de 26 mil estabelecimentos agrícolas têm a tecnologia instalada em
lavouras no Rio Grande do Sul - representando 7,2% do total pesquisado.