Investir em alta tecnologia, armazenar e
comercializar o produto quando o mercado estiver favorável, nunca descuidar da
qualidade na produção, manter relacionamento saudável com a indústria, pensar a
lavoura com base no que o cliente pede, caprichar na escolha dos insumos e ter
uma gestão na ponta do lápis. Essas foram algumas das dicas que cinco
produtores rurais de excelência passaram a mais de 300 jovens agricultores e
estudantes a segunda edição do “Jovens em campo: semeando ideias, colhendo
conquistas”, realizado pelo Sistema Farsul, por meio da Comissão de Jovens
Empresários Rurais da Farsul. O evento aconteceu nesta quinta-feira (10/8), no
auditório Flávio Miguel Schneider, da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
O cerne da programação foram os depoimentos, que
representaram as cinco culturas mais importantes do Estado: soja, arroz, milho,
trigo e pecuária. Eles aconteceram logo após a apresentação de um estudo sobre
rentabilidade elaborado pela assessoria econômica do Sistema Farsul. O material
indicou que, enquanto a sociedade gaúcha é favorecida com sucessivas safras
recordes de grãos, o mesmo não se pode dizer da maior parte dos agricultores e
pecuaristas, que enfrentam disparada no custo de produção, baixas nos preços
das commodities e, consequentemente, queda no retorno financeiro da atividade.
Não é o caso de todos, como as palestras bem
mostraram. “A saída da crise é criar alternativas”, afirmou, em meio ao evento,
o presidente da Comissão Jovem da Farsul, Luís Fernando Pires. O primeiro depoimento
foi do engenheiro agrônomo e produtor rural, Narciso Barison Neto, um dos
precursores da agricultura em Vacaria, ainda na década de 1960 - que tem hoje
como carro-chefe a soja. Ele conta que, desde então, houve avanços
inimagináveis em maquinário, mão-de-obra, plantio e aplicação de defensivos
agrícolas na propriedade, entre outros fatores. Em certo momento da palestra,
falou sobre o peso da escolha correta dos insumos na produção tem para o mundo:
"A maior arma mundial não é a bomba atômica, mas a fome. A fome se combate
com alimentos, e quem controla as sementes que geram o alimento controla o
mundo". Também apontou a importância de investir na estrutura da
propriedade. "Quem não armazena o que produz, não é dono do que tem."
A seguir, o engenheiro agrônomo, produtor rural e
presidente da Fecoagro, Paulo Pires, defendeu que a diversificação na cultura
do trigo e o investimento em tecnologias e aumento da produtividade são as
melhores maneiras de superar os recorrentes problemas de comercialização da
cultura. “Nunca se importou tanto trigo como neste ano”, lembrou ele.
A terceira palestrante, a médica veterinária
Fernanda Costa Beber, de apenas 26 anos, contou como é o trabalho na
propriedade da família, a Fazenda Pulquéria, de São Sepé, que adota o sistema
de autoconsumo e tem como prioridade a carne premium. “O clichê é verdadeiro: é
o olho do dono que engorda o boi. Não podemos prever como estará o mercado
depois da porteira. A viabilidade do negócio pode estar antes ou dentro dela”,
afirmou a jovem, que defende que a preocupação não deve estar no número de
cabeças, mas na quantidade de quilos do rebanho. Outro ponto abordado foi a
relação com a indústria. "Não se trata frigorífico como inimigo, é preciso
aproximação. Não se pode ser inimigo do cliente", disse.
O produtor de arroz em Pelotas e conselheiro do
Irga, Fernando Rechsteiner, defende que o arrozeiro gaúcho deve comercializar a
produção, e não apenas vender. “O ideal é comercializar, no mínimo, 60% da
safra no segundo semestre”, afirmou ele, responsável pelo quarto painel de
culturas do evento. Ele justificou, em números, que os investimentos em
secadores, silos e armazéns apresentam alto retorno para o agricultor.
Rechsteiner ainda colocou como “fundamental” a manutenção da exportação de arroz
em casca em Rio Grande, por ser uma alternativa interessante de escoamento do
grão.
Referência no cultivo de milho irrigado, o produtor
Rafael Moreno, de Santo Ângelo, fechou os painéis dizendo que compensa
investir, há 12 anos, no uso de pivôs na propriedade, por conta do acréscimo na
produtividade e na renda. “Chegamos a produzir 260 sacos por hectare com pivôs
de irrigação. Sempre vale a pena investir em tecnologia, e existem linhas de
crédito que possibilitam a presença delas na propriedade. O investimento é
grande, mas o retorno é garantido.”
Ao final das palestras, houve um painel de
perguntas aos cinco produtores com a mediação do vice-presidente da Farsul,
Gedeão Pereira, que lembrou que "Mesmo com as dificuldades, o Brasil de
hoje é outro de 40 anos atrás. Imaginem daqui a quatro décadas como será e o
que vocês podem fazer por isso. Só tem um jeito de crescer, com muito
trabalho", disse. O evento ainda contou, na parte da tarde, com a
apresentação do software de gestão agrícola Aegro, por um dos representantes da
empresa, e com uma palestra motivacional de Jean Rosier, da Perestroika.